O incidente internacional durou menos de 24 horas. Em meio à campanha do presidente americano, Donald Trump, para expulsar imigrantes sem documentação do país, EUA e Colômbia travaram uma disputa sobre a permissão de Bogotá para o retorno dos deportados. A proibição inicial do presidente Gustavo Petro para que aeronaves militares americanas pousassem em solo colombiano para fazer a entrega dos cidadãos foi superada após uma ameaça de Trump de sobretaxar produtos do país — em um primeiro vislumbre da nova abordagem prometida pelo republicano para Washington na arena internacional.
Mesmo antes de assumir a Presidência oficialmente, Trump já havia indicado que os EUA, durante sua nova gestão, estariam dispostos a fazer valer suas vontades no estrangeiro pelos meios necessários, e não pelas regras internacionalmente aceitas de soberania ou por mecanismos multilaterais. Antes de tomar posse, o republicano já tinha se envolvido em incidentes com Canadá, Groenlândia e Panamá por declarações apontadas como materializações de desejos imperialistas.
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Em sua primeira semana na Casa Branca, após prometer que o país entraria em uma “era de ouro” nos próximos quatro anos, a América Latina foi o principal palco da nova abordagem internacional. Ao dar início à sua campanha de deportações — uma promessa eleitoral, que vendeu como uma prioridade de segurança —, o governo americano enviou, sem maiores conversas, milhares de pessoas a países da região. No Brasil, onde no fim de semana chegaram deportados como ainda parte de diretrizes combinadas ainda em 2017, primeiro ano do primeiro mandato do republicano, a imagem de pessoas descendo com algemas nos pés e mãos, e a forma como foram tratados no percurso, levantou questionamentos do governo.
O caso da Colômbia no fim de semana, em particular, foi visto por observadores como uma escalada de Trump contra um país considerado aliado para dar um exemplo e passar a mensagem de até onde está disposto a ir para fazer valer seus mandos.
— Para Trump, ameaçar a Colômbia dessa forma é bastante ousado em si, porque historicamente continua sendo o aliado estratégico mais antigo e profundo da América Latina — afirmou Will Freeman, pesquisador de América Latina no Council on Foreign Relations, acrescentando que a resistência de Petro também representa uma escalada, sobretudo pela dependência econômica que o país tem dos EUA.
A nova abordagem de Trump foi descrita pelo analista americano Stephen Collinson, da CNN, como uma “política externa coercitiva, baseada em hard power e tarifas”. A ideia é que os EUA estão agora mais dispostos a buscar seus próprios interesses no estrangeiro, usando o peso de sua posição geopolítica e forças militares e econômicas para alcançar objetivos específicos — em vez de seguir patrocinando uma ordem internacional pautada em direitos e consensos, via ONU.
A manifestação oficial da Casa Branca após o desfecho da situação em Bogotá comunica a leitura da situação como um cenário de confronto por Washington, e a mensagem mais abrangente que os EUA esperam passar com a medição de forças. Em uma declaração no domingo, a porta-voz da Presidência, Karoline Leavitt, afirmou que o imbróglio “deixou claro ao mundo que os EUA são respeitados novamente”.
— O presidente Trump vai continuar a proteger ferozmente a soberania da nossa nação, e ele espera que as outras nações do mundo cooperem completamente em aceitar a deportação de seus cidadãos em situação irregular presentes nos EUA — disse Leavitt.
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Embora a América Latina esteja no foco inicial da nova política externa de Trump — o presidente deu uma importância imediata às questões da fronteira e da oposição aos cartéis ligados ao tráfico de drogas —, com uma esperada viagem do secretário de Estado, Marco Rubio, a países da região logo nos primeiros dias do mandato, as ameaças de Trump não ficam restritas ao Hemisfério Ocidental. No outro lado do Atlântico, o presidente já ameaçou fazer uso tanto das tarifas quanto de ferramentas de hard policy caso os países da União Europeia e da Otan não aceitem aumentar gastos com Defesa ou diminuir a taxação ou regulamentações sobre empresas americanas como Meta, Google e Facebook.
Ainda não está claro que tipo de consequência prática a nova abordagem de Trump terá ou se ela será bem-sucedida em atingir os autoproclamados interesses americanos. Ao menos na América Latina, especialistas creem que um endurecimento das exigências americanas podem abrir caminho para um aprofundamento de laços e aumentar a influência da China na região.
Caso se confirme este cenário, seria um profundo revés para Trump e para os EUA, que definiram como uma prioridade na agenda internacional conter a ascensão chinesa. (Com NYT)
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