Atuante na Assembleia Legislativa do Rio desde 2019, Cezar Daniel Mondego havia pedido exoneração dias antes de ser preso pela suspeita de participar do assassinato do advogado Rodrigo Crespo Marinho, em 26 de fevereiro. Ao sair do cargo comissionado, indicou um substituto: Eduardo Sobreira Moraes, ex-PM e também suspeito do crime. Nomeações controversas como essas à Alerj também aconteceram no passado, como a do miliciano Aldemar Almeida dos Santos, que integrou a casa legislativa por três anos e foi preso em 2000 durante um almoço em que estava acompanhado por um traficante.
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Aldemar, conhecido como Robin na milícia Liga da Justiça, havia sido condenado, em 1988, a 14 anos de prisão por tráfico de drogas e corrupção ativa. Do total, cumpriu três anos. Dez anos depois, foi nomeado assessor na Alerj por Sérgio Cabral, presidente da casa à época.
Em setembro de 2000, durante um almoço na churrascaria Boizão, em Campo Grande, foi preso ao lado de Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, que era ex-PM e atuava como cabo eleitoral. À mesa com a dupla, estava Levy Batista da Penha, chefe do tráfico no Complexo do Alemão, e Joseildo de Melo, um comparsa.
Segundo as investigações do caso, feitas pelo delegado Álvaro Lins, os quatro estavam negociando apoio do tráfico ao candidato a vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, à época do PMDB. Anos depois, ele vinha a se concretizar como um dos maiores nomes da milícia carioca, sendo chefe da Liga da Justiça. Ele foi assassinado em 2022, em Campo Grande, na Zona Oeste, onde estava a maioria de seus apoiadores.
Quando a prisão de Robin aconteceu, Sérgio Cabral foi contestado pela atuação de um criminoso na Alerj.
— Me pediram por ele, disseram que tinha voto. Então, tudo bem, entra. — respondeu naquele ano. Além disso, avisou que iria pedir mais rigor na contratação de futuros funcionários da casa e descobrir de qual deputado havia partido a indicação.
Cabral acreditava também que a participação de Jerominho no almoço era forjada, principalmente porque o ex-vereador era contrário aos traficantes, a quem combatia, diariamente, na milícia.
Procurado para comentar sobre esse caso antigo, Sérgio Cabral não retornou.
Assassinato do advogado
Entre os parlamentares da Alerj corre a versão de que a nomeação de Cezar Daniel Mondego teria partido de Marco Antônio Cabral, filho de Sérgio Cabral. Ao contrário de Aldemar Almeida, até o assassinato do advogado, o nome de Cezar não estava envolvido em nenhum crime.
Comentários na Alerj também explicam que, apesar do ex-governador ter estado preso entre 2016 e 2023, ele teria mantido influência na casa por meio do filho, indicando aliados para postos estratégicos. Segundo aliados do deputado estadual Rodrigo Bacellar (União), presidente da Alerj, uma reunião entre ele e Marco Antônio teria acontecido nesta quarta-feira.
No encontro, Bacellar teria informado sobre o veto a novas nomeações ou trocas de postos na casa por Marco Antônio, que poderia comandar somente mais três nomeações. Bacellar também teria feito cobranças sobre o prejuízo político causado pelo vínculo de Cezar Daniel Mondego à Alerj.
Ao GLOBO, Bacellar conta ter sido informado sobre a troca entre os indicados pelo diretor de patrimônio da Alerj e confirmou a ligação de Marco Antônio Cabral.
— O diretor de Patrimônio me disse que, na semana do crime, o Cezar o informou que precisava cuidar de questões pessoais e que, neste período, gostaria de deixar alguém da sua confiança no lugar. Como não havia suspeitas sobre ele e trabalhava no local desde 2019, a proposta foi aceita. Inclusive, foi dito a ele que, caso precisasse, poderia reassumir o seu posto, futuramente. O Cezar tinha ligações, sim, com o Marco Antônio Cabral, que aparece ao lado dele em fotos. Aliás, esta ligação é anterior ao meu mandato e a nomeação dele também, mas eu não saberia dizer se foi o Marco Antônio quem o indicou para trabalhar aqui — afirmou.
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