No Bar Maravilha, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, não é incomum que aqueles clientes mais fiéis e assíduos peçam para “pendurar a conta”. Em se tratando de fiado, o estabelecimento carioca não é o único. Levantamento feito pela Web Automação, empresa de soluções de vendas e tecnologia para negócios, identificou que mais de 400 locais no Brasil aceitaram o fiado como meio de pagamento no ano passado, movimentando R$ 4,3 milhões.
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Para alguns, o modelo virou até um meio de fidelizar ainda mais a clientela.
— São pessoas que sempre passam por aqui, já as conhecemos. Elas acabam promovendo o bar, levando clientes e consumindo mais — diz João Alberto Fontes, sócio do Bar Maravilha.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o Pix encerrou 2023 com 42 bilhões de transações. Cartão de crédito, débito, boleto e outros meios totalizaram, juntos, quase 39,4 bilhões de operações. Com tantas possibilidades, o consultor e mentor de varejo da Azo Negócios, Marco Quintarelli, explica que o fiado geralmente é adotado por estabelecimentos menores:
— O fiado é uma venda de relacionamento. Somente pessoas muito próximas têm esse tipo de relação de compra e venda.
Rio, São Paulo e Minas Gerais são os estados em que o fiado é mais usado, indica a pesquisa. Em relação aos tipos de comércio, destacam-se restaurantes, lanchonetes e bares. Mas isso não é uma regra.
Na barbearia do Gabriel Alves, clientes mais próximos podem pagar fiado — Foto: Arquivo pessoal
De uma família de comerciantes, Gabriel Alves, de 27 anos, é dono de uma barbearia em Niterói. Para ele, o fiado sempre foi realidade, mas para alguns:
— O fiado é porque a pessoa tem alguma dificuldade de pagamento, seja porque o cartão não virou ou não recebeu e vai precisar esperar até o 5º dia útil — diz Alves.
Com as modernizações, até o fiado precisou se reinventar. O dono da barbearia utiliza o bloco de notas do celular. Já o Bar Maravilha tem um sistema operacional de controle de gastos.
— Temos um sistema que faz o gerenciamento de saldo do vendedor e consegue até limitar o crédito — diz Araquen Pagotto, CEO da Web Automação.
Caderninho não está aposentado
Enquanto alguns empreendedores modernizam o sistema de controle do fiado, outros preferem utilizar métodos tradicionais, como o bom e velho caderno. É o caso do aposentado Paulo Salles, de 64 anos, que há mais de 40, tem um bar em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. O comerciante costuma vender fiado para os “mais chegados”, que não têm condições de pagar na hora.
— Comércio de bairro sempre vai ter um fiadinho ou outro. Para ter controle, ainda sou à moda antiga, anoto tudo no meu caderninho — diz.
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O aposentado João Régis dos Santos, 70, tem uma mercearia, também no município de São Gonçalo, como forma de ter uma renda extra. Quando vende fiado — o que acontece para as pessoas próximas — também faz questão de anotar em seu caderninho:
— As pessoas às vezes chegam com dificuldade, precisam comprar e não têm o dinheiro na hora. Eu vendo e anoto tudo.
Gestão financeira pode ser prejudicada
Por se tratar de uma venda baseada na confiança, o fiado é um risco para quem o utiliza. A falta de pagamentos pode prejudicar a gestão financeira do estabelecimento, dizem os especialistas.
— É um risco também quando se pensa numa boa gestão financeira do comércio, pois tenho que desembolsar primeiro para fazer a aquisição de produtos, tenho que pagar e não vou receber (dinheiro) naquele momento — diz Cintia Senna, sócia executiva da DSOP Educação Financeira.
Quintarelli ressalta que em um período marcado por insegurança econômica, qualquer desequilíbrio no orçamento pode afetar o estabelecimento. Ele diz que “hoje existem vários meios de pagamento que podem dar garantia ao vendedor” e que o fiado está com os dias contados.
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Da mesma forma, o presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira, Reinaldo Domingos, diz que o fiado não oferece benefícios ao comerciante nem a quem compra.
— Não há um benefício para o comerciante. É praticamente um risco de 100%, mesmo que seja uma pessoa que compra há muitos anos. Para quem compra há risco de descontrole financeiro.
Vendendo fiado há 40 anos, o aposentado Paulo Salles já sentiu no bolso.
— Se eu recebesse tudo que tinha para receber desde que comecei no comércio, estaria rico hoje — conclui.
Se for vender fiado:
Selecione os clientes
Não dá para vender fiado para todos. Por isso, analise sua carteira de clientes e veja quais são os consumidores fiéis que merecem o direito de comprar para pagar depois. Considere também que nem todo velho conhecido é um bom pagador.
Cadastre os clientes
Para vender fiado, é preciso organizar um cadastro dos clientes que terão direito a essa forma de pagamento. É preciso solicitar, por exemplo, RG, CPF, nome completo, telefone, e-mail e endereço. Essas informações podem ser úteis para contatá-los no futuro.
Limite o crédito
Determine um limite de crédito para seus clientes. Para isso, considere também o orçamento do estabelecimento. É possível adotar um teto comum para todos ou analisar caso a caso.
Estabeleça prazos
Se for conceder o benefício do pagamento fiado, estabeleça prazos para que os clientes paguem o que compraram. Deixe bem clara essa data-limite para receber o dinheiro.
Mantenha contato
Crie uma rotina de contato com os clientes para avisá-los de que o prazo para o pagamento está chegando ao fim. Essa comunicação pode ser útil até mesmo quando for preciso renegociar datas de pagamento com eles.
Cobre um sinal para contas mais altas
Quanto o valor da conta for alto, pense em cobrar um sinal como forma de garantir, pelo menos, parte do dinheiro das vendas fiadas, como uma forma de garantia. Mas é preciso cobrar o cliente do pagamento total.
Fonte: PagBank
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