Desde criança, Hygor Rodrigues Pereira, de 34 anos, é um apaixonado pelos garis. Em 2017, pela primeira vez, esse foi o tema de sua festa de aniversário. Acometido aos 6 meses de vida por uma meningite que deixou sérias sequelas neurológicas, o rapaz parou de andar e vive acamado desde abril desse ano, quando convulsões provocadas pela epilepsia pioraram o seu quadro, o levando a ficar internado durante três meses. Com os movimentos limitados, Hygor não esconde sua emoção quando ouve o barulho do carro da limpeza urbana passando pela comunidade do Chapéu Mangueira, no Leme, onde vive com a família.
Por essa razão, essa sexta-feira foi um dia especial para o rapaz. Numa celebração antecipada do Natal, ele recebeu em casa a visita de uma equipe de garis e de um Papai Noel, com direito a presentes. O superintendente regional Sul da Comlurb, Alexandre Campos, levou para ele, em nome da empresa e dos funcionários, um caminhão de coleta de brinquedo e uma vassourinha de madeira, símbolo da companhia. A fotógrafa Lorena Mossa registrou tudo com sua câmera e vai presentear a família com um álbum fotográfico. A decoração foi oferecida pela moradora Virgínia Souza Correa.
O rapaz mora com a mãe, Janaina Novaes, de 60 anos, operadora de caixa, e o pai, Cosme Pereira, de 65, funcionário público, além do irmão Nilton de 15, que é autista e entrou para a família aos dois anos, quando foi adotado pelo casal. A mãe diz que filho está em processo degenerativo de demência e, após ficar tetraplégico, os médicos não deram esperanças de que ela vá viver muito mais tempo. Por isso, diz, quer aproveitar cada momento.
— Da última vez que ele esteve internado, o médico disse: “mãe, leva ele para casa e aproveita todo o tempo que ainda tem”. É o que estou fazendo. Não sei quanto tempo mais ele tem e enquanto estiver comigo vou fazer tudo para aproveitar bem.
HYgor e a mãe Janaína (ao centro) com os garis comemorando os 28 anos do rapaz — Foto: Guilherme Pinto 02/08/2017
Desde que voltou para casa, o rapaz foi acomodado na sala, para ter mais conforto, numa cama hospitalar doada por uma amiga da família, moradora em Parada de Lucas. De lá ele não vê, mas consegue escutar o barulho do caminhão da Comlurb passando pelas vielas da comunidade. Nessas horas, segundo mãe, fica agitado e grita de felicidade. Ela não tem dívidas de que se não fosse pela doença, o filho seria gari.
Para garantir a presença dos ídolos do filho na sua festinha de Natal, a mãe não mediu esforços. Mobilizou até o prefeito Eduardo Paes, para quem enviou e-mail e este replicou a mensagem para o presidente da Comlurb. Inclusive, parte da equipe deslocada para sua casa na manhã dessa sexta-feira veio da solenidade de inauguração de uma praça no Centro, com a presença de Paes, conforme confirmou o superintendente regional.
— Não viemos aqui para homenageá-lo. Na verdade, nós é que nos sentimos homenageados, com esse carinho todo — relevou Alexandre Campos.
Para fazer a vontade do filho, Janaína também pediu ajuda pela internet para encontrar um fotógrafo disposto a fazer um ensaio fotográfico da festinha, sem custos para a família. Já estava quase perdendo as esperanças quando Lorena respondeu à mensagem e, em seguida, entrou em contato.
— Estou acostumada a fotografar famílias e a fazer trabalho voluntário. Para mim foi uma satisfação. Me envolvo muito com essas causas — disse a fotógrafa, moradora em Botafogo.
Todo o cenário da festa, incluindo um imenso painel com a imagem de um Papai Noel foi fornecido pela Babilônia DL, firma de decoração e lembranças da própria comunidade. Virgínia, a proprietária, disse que é praxe colaborar com ações desse tipo, sem cobrar.
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— A gente gosta. É muito importante realizar os sonhos das pessoas. É gratificante e faz bem — reconhece.
O vizinho Luiz Carlos Carneiro, de 63, se vestiu de Papai Noel para alegrar Hygor.
— É gratificante. Não tem preço — avaliou o aposentado.
Na casa da família, um quadro na parede avisa: “aqui tem amor”. Com essa determinação, Janaína resolveu adotar uma criança especial, mesmo tendo um filho com doença degenerativa e idade mental de uma criança de cinco anos. Ainda assim encontra tempo para ajudar outras pessoas.
Em 2012 criou a ONG SOS Anjos Especiais, para auxiliar, por meio de padrinhos, jovens com problemas mentais. Até a pandemia promovia festas na quadra da comunidade para cerca de cem crianças especiais e seus familiares, onde costumava reunir até 400 pessoas.
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