Quando fechou, em 2018, o Mercadinho São José deixou órfãos centenas de frequentadores assíduos que faziam do local quase uma extensão de casa. Cinco anos depois, os ventos que sopram da construção na esquina da Rua das Laranjeiras com Gago Coutinho, na Zona Sul do Rio, anunciam boas-novas. A previsão é que as obras comecem nesta quarta. Com isso, o ar histórico do antigo celeiro de uma fazenda do século XIX, que existiu na região onde hoje se encontra o Parque Guinle, vai ficando para trás.
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O consórcio que envolve Junta Local e Engeprat pretende construir um edifício em estrutura metálica, que leva menos tempo para ser erguido. Com isso, a conclusão deve ser até o segundo semestre de 2024. O novo mercado ganhará estruturas modernas, entre elas, uma claraboia para climatização. Além disso, o número de boxes será reduzido de 16 para dez e outras lojas ocuparão o anexo vizinho comprado pela prefeitura.
— O projeto já foi aprovado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Quisemos começar a obra o quanto antes. Estamos todos com pressa, e ela não é de grande complexidade. O terreno em anexo terá estrutura metálica com armação de laje — explica Gustavo Guerrante, presidente da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar). — O próprio Mercadinho não vai ter procedimentos difíceis. A parte mais inovadora é a climatização: vamos montar uma estrutura com vidro e claraboia no teto.
A ideia é que a revitalização seja concluída a tempo do aniversário de 80 anos do Mercadinho. Embora ele seja bem mais antigo, o marco de contagem é a sua transformação em mercado no ano de 1944, por ordem do presidente Getulio Vargas, que queria proporcionar à população alimentos mais baratos durante a Segunda Guerra Mundial.
O Mercadinho São José na época em que vendia alimentos — Foto: Estefan Radovicz / Agência O Globo
Ares de abandono
O aspecto atual do espaço é de abandono. Plantas nascem entre azulejos, há coifas enferrujadas e muitos objetos deteriorados. Por outro lado, três vigias se revezam em três turnos para tomar conta do lugar.
Ainda há por ali instalações em processo de deterioração desde 2018, quando o casarão teve seu funcionamento como praça de lazer e alimentação interrompido e foi retomado judicialmente pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Agora, após a compra do terreno pela prefeitura, as empresas concessionárias terão o direito de explorar o local por 25 anos, pagando ao município a outorga mensal de R$ 5 mil e 10% do faturamento.
Thiago Nasser, cofundador da Junta Local, diz que o projeto de execução das próximas etapas está em planejamento:
— Começamos a elaborar um plano executivo que vai orientar a implementação e a operação. Na primeira proposta, levamos uma ideia de como a gente atende ao propósito do chamamento para que o espaço vire um polo gastronômico.
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Ex-frequentadores do Mercadinho estão saudosos do agito e se animam com a revitalização do local. É o caso da aposentada Maria Peral, de 55 anos, moradora de Santa Teresa:
— Anos atrás, quando eu era casada, era um programa seguro fora de casa. O lugar é lindo e tem que voltar logo. É o resgate da memória do bairro.
Antes de funcionar com bares e restaurantes nos anos 2000, o espaço passou por abandono nos anos 1960. Em 1988, foi transformado em centro cultural. O Mercado São José foi tombado pela Câmara Municipal em 1994 para fins de preservação histórica e cultural. Dentro dele, há uma fonte, também tombada, que não poderá sofrer modificações nas obras.
Mistério sobre senzala
Ultimamente, surgiram especulações sobre a possibilidade de a história do espaço ser ainda mais antiga do que a que se conhece hoje. Há relatos do uso do lugar como senzala. Thiago Nasser se dedica a estudos sobre este passado:
— Tenho feito pesquisas na Biblioteca Nacional porque isso tem sido reproduzido em artigos, mas não encontrei a fonte original. Se for, é um elemento a que temos que ficar muito atentos. Na Junta Local, a gente tem esse olhar para a gastronomia, e nós incluímos no projeto a ideia de o mercado ser um lugar de incubação de novos negócios e capacitação. Queremos abrir o espaço para quem está começando e para iniciativas que valorizem a tradição de reparação histórica.
Gravura de Eugène Ciceri, de 1852: a paisagem da região no século XIX, quando o espaço do Mercadinho (em primeiro plano, à direita) era o celeiro de uma fazenda — Foto: BN Digital/ Domínio Público
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