Relatório mostra que equipamentos guardados na inacabada estação da Gávea deterioraram com o tempo

O governo do estado e a concessionária MetroRio firmaram um acordo que abre caminho para a retomada das obras da estação da Gávea, na Zona Sul, paralisadas desde 2015. Em troca do investimento de até R$ 600 milhões no projeto, o tempo de concessão seria ampliado em dez anos (até 2048). Além disso, a empresa — que já controla as linhas 1 (Tijuca-Ipanema) e 2 (Pavuna-Estácio) — passaria a administrar a Linha 4 (Ipanema-Barra), como informou o colunista do Globo Lauro Jardim. Um documento de janeiro deste ano ao qual o EXTRA teve acesso mostra que equipamentos comprados para a nova estação correm o risco de serem aproveitados apenas como peças de reposição. Alguns foram comprados quando a obra estava prevista para ficar pronta até a Olimpíada de 2016.

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Em 2019, durante um forte temporal, os almoxarifados foram alagados. Depois disso, houve um inventário sobre a situação do material atingido. Entre os materiais que não podem ser aproveitados estão mais de 200 extintores de incêndio, painéis de distribuição de energia, sistemas de nobreak (para manter a energia em caso de apagão) e pelo menos 180 baterias. Outros itens, incluindo três painéis comprados para energizar a estação, vão ter que ser recuperados. Os técnicos não estimaram qual o valor das perdas.

Serão avaliadas ainda as aduelas que vão revestir cerca de 1,2 quilômetro de túnel que falta ser escavado. Elas estão armazenadas em um terreno do estado na região da Leopoldina.

Obras dependem de aval do TCE e MP

A assinatura do documento não coloca o projeto nos trilhos imediatamente. Isso porque as bases dessa negociação terão que ser aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e homologado pela Justiça, com a intermediação do Ministério Público (MP) do estado.

A intervenção do MP será necessária porque há ações na Justiça que apuram um suposto superfaturamento na implantação da Linha 4, que custou R$ 9 bilhões. O TCE estimou que houve um sobrepreço de R$ 1,5 bilhão e exige que o estado seja ressarcido pelo consórcio responsável pela construção. A partir do momento em que um acordo for fechado de fato, serão necessários três anos de obra até a estação ser aberta ao público.

— É um avanço concreto e significativo para um dos maiores desafios da mobilidade urbana da cidade. A retomada das obras da estação da Gávea, paralisada há oito anos, vai destravar o desenvolvimento do sistema metroviário do estado — disse o governador Cláudio Castro.

Imagens que contam a história do metrô no Rio

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População visita a estação da Cinelândia, em novembro de 1978, antes da inauguração do novo transporte carioca — Foto: Arquivo / Agência O Globo

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Ernesto Geisel na inauguração do metrô do Rio, em 1979 — Foto: Anibal Philot / Agência O Globo

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Obra de construção da estação do Largo do Machado, em 1981 — Foto: Otávio Magalhães / Agência O Globo

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Obra do metrô no Catete avança para o Largo do Machado, em 1976 — Foto: Manoel Soares / Agência O Globo

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Registro do segundo dia de operação da linha 1, em 1979 — Foto: Otávio Magalhães / Agência O Globo

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Últimos retoques para a inauguração da estação do Maracanã, em 1981 — Foto: Antonio Nery / Agência O Globo

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Inauguração da estação do Largo do Machado, em dezembro de 1981. Ao centro, Chagas Freitas e Eliseu Resende — Foto: Jorge Marinho / Agência O Globo

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Inauguração da Linha 2 do Metrô, estação do Maracanã e São Cristóvão. na foto, Dom Eugenio Sales, Eliseu Resende (ministro dos Transportes) e Chagas Freitas (governador do Rio) a caminho da roleta na Estação de São Cristóvão — Foto: Jorge Marinho / Agência O Globo

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Inauguração, em 2016, da Linha 4 do Metrô em Ipanema e Barra da Tijuca, contou com presença do presidente em exercício Michel Temer e o governador licenciado Luiz Fernando Pezão, na estação Nossa Senhora da Paz — Foto: Marcelo Carnaval/ Agência O Globo

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Trem atravessando a ponte na Barra da Tijuca após inauguração da linha 4 — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

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Primeiro dia de funcionamento do metrô da Pavuna para Copacabana, em setembro de 1998 — Foto: Gustavo Azeredo / Agência O Globo

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Obra do metrô Copacabana, em junho de 2000 — Foto: Domingos Peixoto

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A governadora Benedita da Silva visita o metrô da Siqueira Campos, em 2002 — Foto: Custodio Coimbra

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Lula e o governador Sérgio Cabral na inauguração da estação General Osório do Metrô, em Ipanema, em dezembro de 2009 — Foto: Carlos Magno

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Grande movimentação de passageiros na inauguração da linha que liga o Metrô da Pavuna à Ipanema, em dezembro de 2009 — Foto: Berg Silva / Agência Globo

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Obra da linha 4, no Leblon, em 2015 — Foto: Pedro Teixeira

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Obra do Metrô da Linha 4, na estação São Conrado — Foto: Custodio Coimbra

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Obra do Metrô linha 4, no Leblon. — Foto: Guilherme Leporace

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Perfuração do túnel do metrô, feita pelo tatuzão, em Ipanema. — Foto: Divulgação

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Inauguração da linha que liga Pavuna à Ipanema. Trem passa sobre ponte na Francisco Bicalho — Foto: Berg Silva / Agência Globo

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Concessão do Metrô Rio completa 25 anos

Estação está inundada

O estado divulgou apenas pontos genéricos do acordo firmado ontem. No entanto, no fim de outubro, uma resposta da Secretaria estadual de Transportes e Mobilidade Urbana (Setrans) ao TCE revelou alguns detalhes da negociação. Um dos pontos prevê que, caso sejam gastos mais de R$ 600 milhões — custo para terminar apenas as obras físicas, o estado arcará com a diferença.

O primeiro passo da obra será esvaziar o esqueleto da futura estação. A estrutura está inundada desde 2017, uma estratégia adotada para tentar evitar o desmoronamento das paredes. Isso deve demorar de três a quatro meses.

A questão é que já se sabe que, passados oito anos sem movimentação nos canteiros, parte dos insumos comprados para montar a estação não pode ser mais recuperada, como já revelaram inspeções feitas pelo governo do estado.

Ex-diretor da Odebrecht que participou da modelagem das concessões da SuperVia e de linhas metroviárias de São Paulo, Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, diz que é difícil para qualquer especialista que não esteja participando das negociações avaliar se dez anos seria ou não um prazo razoável de expansão da concessão em troca dos investimentos anunciados.

— A modelagem é complexa. A concessionária apresenta seus cálculos, inclusive sobre quanto espera receber de receitas de passagens. E o estado apresenta os dele. Nada disso ainda foi divulgado — disse o especialista.

A nota divulgada pelo estado também não deixa claro se haverá alteração do valor da passagem, hoje de R$ 6,90 (valor integral) e de R$ 5 (a tarifa social). Em agosto, o governo chegou a acenar com uma redução. A única informação agora é que o preço será o mesmo nas três linhas, como é hoje:

— Creio que será difícil reduzir a tarifa. A não ser que sejam concedidos subsídios — opina Marcus Quintella.

Especialista em transportes, o professor emérito da Pontífice Universidade Católica (PUC-Rio) José Eugênio Leal observa que a conclusão da estação é estratégica para viabilizar o projeto original de expandir a rede metroviária do Rio.

— O projeto original prevê que o ideal seria expandir o metrô até a Rua Uruguai (Tijuca), passando por Jardim Botânico, Botafogo e outros bairros da Zona Sul. Essa integração seria feita justamente a partir da Gávea. Isso quando e se tiver recursos — destacou.

O acordo prevê que o MetrôRio contrate o Consórcio Rio-Barra (atual detentor da concessão da Linha 4) para finalizar a estação. Na construção da Linha 4, o Rio-Barra ficou responsável por tirar do papel três estações: Jardim Oceânico, São Conrado e Gávea.

Nas negociões com o estado, segundo o documento enviado pela Setrans ao TCE, o MetrôRio reivindica que fique claro no acordo que a concessionária não assumirá qualquer responsabilidade por cobranças judiciais e extrajudiciais que tenham ligação com a obra.

Procurada, as empresas não se manifestaram sobre o acordo. O MP informou que aguarda o envio de documentos para se pronunciar sobre a proposta. Por sua vez, o TCE diz que tem mantido entendimentos com a Procuradoria Geral do Estado (PGE) para viabilizar o término das obras na Gávea.

Mesmo com as obras paradas, há alguma movimentação no canteiro junto à estação da Gávea. Uma das preocupações é com a integridade dos prédios do entorno. O espaço é constantemente monitorado para verificar se não houve movimentação do solo que abale prédios vizinhos, inclusive alguns da PUC.

— Quando o buraco foi inundado, a expectativa era que a obra fosse retomada rapidamente. A questão em si não é a estabilidade do canteiro. Mas a partir do momento em que a estação não é concluída, criando uma barreira física, existe o risco de a movimentação do lençol freático sob os prédios no entorno provocar desestabilização dos terrenos, afetando as fundações. Isso não é medido.— diz o engenheiro Licínio Machado Rogério, membro do Fórum de Mobilidade Urbana.

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