Líderes da Rússia e da China participam de reunião do grupo em Brasília
No dia do início da Cúpula dos Brics em Brasília, um aliado do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, invadiu a embaixada do país no Brasil.
O gesto foi visto como proposital pelo governo brasileiro e deve levar a um constrangimento diplomático, uma vez que os líderes de China e Rússia apoiam o ditador Nicolás Maduro, ao contrário do presidente Jair Bolsonaro (PSL), cuja gestão reconheceu Guaidó como legítimo representante do país vizinho.
Na manhã desta quarta-feira (13), Tomás Silva, ministro-conselheiro e número dois da embaixadora María Teresa Belandria, representante de Guaidó, invadiu o prédio da embaixada em Brasília.
Nas primeiras horas da manhã, o encarregado de negócios da embaixada venezuelana em Brasília, Freddy Efrain Meregote Flores, distribuiu uma mensagem de áudio a aliados pedindo ajuda.
“Informo a vocês que pessoas estranhas estão entrando e violentando o território da Venezuela. Precisamos de ajuda, precisamos de ação imediata de todos os movimentos sociais de partidos políticos”, afirmou Meregote na mensagem.
O episódio gerou um tumulto no local e a polícia militar foi chamada. Parlamentares de partidos de esquerda do Brasil, como PT e PC do B, fizeram publicações nas redes sociais criticando a entrada de Silva.
Aliados da Venezuela, como integrantes da diplomacia cubana em Brasília, também protestam contra o ingresso do diplomata oposicionista.
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) bateram boca com manifestantes que foram à Embaixada defender o regime de Nicolás Maduro. Até 11h, pelo menos duas confusões envolvendo apoiadores de Bolsonaro foram registradas. Um deles chegou ao local e começou a fazer uma transmissão ao vivo, sendo hostilizado por apoiadores de Maduro que estavam em frente à embaixada.
Cerca de 20 minutos depois, um jovem com cerca de 20 anos também chegou ao local e começou a gravar. Ele foi perseguido por homens usando camisas em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas conseguiu fugir.
Dois manifestantes foram levados pela Polícia Militar ao entrar em confusão com um terceiro homem que foi à embaixada defender Guaidó, enquanto um apoiador de Guaidó também foi colocado no carro da PM e deixou o local.
Enquanto apoiadores de Maduro falam em invasão, aliados de Guaidó veem na ajuda dos funcionários da embaixada um reconhecimento de sua legitimidade como presidente autoproclamado.
O venezuelano Alberto Palombo, apoiador de Guaidó, participou da ação. Ele disse ter sido convocado na manhã desta quarta para entrar na embaixada por pessoas que trabalham no local.
“Não trabalho para a embaixadora, eu simplesmente vim ajudar. Aqui tem muitos venezuelanos que saíram do nosso país fugindo de uma crise humanitária”, disse. Segundo ele, haveria cerca de 15 pessoas aliadas de Guaidó dentro da embaixada.
Em uma rede social, Eduardo Bolsonaro, líder do PSL na Câmara e filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o Brasil “tem responsabilidade com a crise venezuelana provocada pelo socialismo do séc.XXI de Chávez e Maduro”.
“Desvios do BNDES para obras na Venezuela e em Cuba financiaram o Foro de SP”, continuou. Em outra mensagem, ele afirmou que a “esquerdalha foi para a porta da embaixada da Venezuela no Brasil, quero ver é ir para a Venezuela viver como cidadão venezuelano comum”.
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Na manhã desta quarta-feira (13), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, discutiu o impasse na missão diplomática venezuelana com o presidente Jair Bolsonaro.
O Itamaraty enviou à embaixada um diplomata para tentar negociar uma saída. De acordo com o ministério, o negociador está acompanhado de um agente do batalhão Rio Branco, força da Polícia Militar do Distrito Militar responsável pela segurança das missões diplomáticas.
O objetivo, diz a pasta, é garantir a integridade física das pessoas que agora estão no edifício.
Embora o Brasil reconheça oficialmente Belandria como a representante de Guaidó, o país não adotou até o momento a iniciativa de expulsar os representantes do regime de Nicolás Maduro.
Existe receio no Itamaraty que uma medida dessa natureza gere reações na Venezuela, onde vive uma comunidade de brasileiros e onde há diplomatas do país trabalhando.
De acordo com interlocutores no Itamaraty, a legislação consular obriga o governo a garantir a segurança de diplomatas que trabalham no país —mesmo aqueles de um governo com qual o Brasil não mantém relações diplomáticas.
A coincidência do episódio com o início do encontro dos Brics —grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul— pode trazer problemas para o governo de Bolsonaro.
O Palácio do Planalto pretendia manter o tema da Venezuela de fora da pauta do encontro, já que os líderes de Rússia, Vladimir Putin, e China, Xi Jinping, são aliados de Maduro.
A posição majoritária do governo é para que Bolsonaro siga a estratégia de não criar polêmicas com os países, mas já há assessores presidenciais que defendem a necessidade de ele se posicionar a favor de Juan Guaidó depois do incidente.
Aliados do presidente diziam que a meta era deixar assuntos polêmicos de fora da cúpula. A ala mais radical do governo, porém, chegou a cogitar um convite a Guaidó para participar da reunião, o que foi descartado no desenrolar da organização.
A chancelaria brasileira decidiu não convidar nenhum país vizinho para participar da reunião dos Brics devido ao momento de instabilidade política na América Latina, marcado por turbulências e mudanças de governo em países como Argentina, Chile, Bolívia e Peru.
Em junho, quando Bolsonaro participou de encontro do grupo de países emergentes à margem da reunião de cúpula do G20, no Japão, ele decidiu não entrar no assunto da Venezuela em seu discurso de abertura.
Ele havia programado inicialmente falar sobre a situação do país vizinho, mas foi convencido pela equipe econômica e por militares a adotar moderação.
À época, o presidente brasileiro disse que excluiu as críticas a Maduro de sua fala para não provocar a Rússia, que classificou como uma “potência nuclear”.
Fonte: Folha de São Paulo